quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Praça da Saudade...

Salete Pimenta Tavares

“A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim, tudo é igual,...”

Não, não posso dizer como Ronnie Von nas estrofes acima citadas, pois a praça a qual eu me refiro, a Praça Reinaldo Pimenta, em Caraúbas, antiga Praça Getúlio Vargas, sofreu mudanças, o que é normal no desenvolvimento de uma cidade. Essas mudanças entristeceram, de certa forma, as pessoas que, como eu , passaram momentos felizes, momentos de emoção, numa época sem medo, sem violência, sem brigas, sem ganância por lugares, tendo em vista que a praça era nossa, era de todos, ricos, pobres, pretos, brancos, etc. e onde a alegria e a tranquilidade reinavam por toda parte. Era nessa praça que entre um passeio ou outro, entre um ou vários encontros, as paqueras (flertes, naquela época) aconteciam, dando início a namoros curtos ou duradouros, resultando até em casamentos. Os namoros, muitas vezes às escondidas dos pais, eram verdadeiras aventuras, onde os olhares de soslaio, os beijos roubados, aquela inocência dos primeiros toques, a irreverência sem maldade, visto que somente o passeio de mãos dadas era permitido, enfim, essas lembranças boas, essa recordação, só tem quem viveu esses momentos.

Existia naquela praça um “Coreto” (pavilhão ao ar livre para concertos musicais), onde aos domingos a banda de música da cidade se apresentava tocando aqueles bonitos dobrados, aquelas belíssimas valsas (Royal Cinema, Bodas de Prata, Ave Maria no Morro, etc.). Alguns seresteiros também se apresentavam cantando as músicas de serestas, sucessos da época como “Último Desejo” (de Isaurinha Garcia), “A Volta do Boêmio” (de Nelson Gonçalves), “Malandrinha” (de Francisco Alves), “Ranchinho de Palha” (cantado por Rinaldo Calheiros) e tantas outras, que até hoje ainda são sucessos, quando seresteiros se encontram na noite natalense. O coreto e também o quiosque, alí existentes, eram pontos de encontro e locais de discussão e confraternização dos caraubenses.

Entretanto, tenho que me orgulhar da mudança do nome da Praça Getúlio Vargas para Praça Reinaldo Pimenta, tendo em vista que Reinaldo Pimenta era meu avô paterno, e seu busto colocado no meio da praça, talvez tenha sido construído com a finalidade de conservar sempre viva e presente na consciência das gerações futuras, a lembrança de sua existência, de suas ações como homem público, que seguramente contribuiu para o bem-estar de toda a comunidade caraubense.

Mas, como dizem que o Brasil é um país sem memórias, o que acontece é que as pessoas passam pela vida, deixam marcas de sua passagem pela terra, mas logo vão sendo esquecidas, vão desaparecendo no tempo, como se nunca tivessem existidos.

A pesquisadora Junia Marques Caldeira, investigando a gênese das praças, fez a seguinte citação: “Na modernidade, as cidades crescem cada vez mais, as pessoas perdem os espaços de lazer e a convivência espacial para se confinarem em shoppings, restaurantes, cafés, bares, e o local público deixa de ser o espaço de convívio, perdendo força como espaço simbólico”.

Portanto, é importante que aprendamos a valorizar as nossas coisas, a registrar a nossa história, a nossa vida, para, num futuro bem próximo, tudo o que você sonhou, tudo o que você viveu, tudo o que você realizou, fique marcado para a posteridade, contribuindo dessa forma para a busca de novos valores, novas esperanças, novos rumos para a humanidade.
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