segunda-feira, 26 de abril de 2010

Teatro Caraubense em 3 tempos – 1


Anchieta Fernandes

Pouca gente sabe, hoje, que a cidade de Caraúbas, atualmente dotada de um braço da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, já teve um movimento teatral bastante animado. Ainda no século 19, José Cromácio de Brito construiu para os caraubenses o Teatro São Sebastião. E nele, os filhos e filhas da terra começaram a apresentar espetáculos dramáticos.

Para comprovar, basta transcrever a notícia que o jornal natalense “A República”, de 02 de março de 1900, publicou, com reportagem enviada pelo correspondente em Caraúbas, destacando: “Na noite de 18 foi levado à cena no nosso modesto teatrinho o drama em quatro atos “Os brilhantes de minha mulher”, no qual trabalharam bem regularmente, jovens amadores. No difícil papel de Adélia sobressaiu-se a exma. Dona Rosa de Brito, sendo entusiasticamente aplaudida pela platéia.”

A apresentação destas peças pelos artistas de teatro caraubenses no Teatro São Sebastião, se tornou uma constante, sendo por fim fundado por eles o clube dramático Segundo Wanderley, que tinha como finalidade (segundo dizia os estatutos) “difundir a instrução dramática entre os sócios e dar espetáculos públicos, levando à cena dramas e comédias.” O presidente do clube era o Dr, Alfredo Celso.

O mesmo jornal “A República”, a 17 de fevereiro de 1915 noticia: “Os moços do clube dramático Segundo Wanderley, levaram à cena no dia 18 de janeiro, no Teatro São Sebastião, o bonito drama “O Primeiro Amor”, cujo desempenho foi bastante satisfatório, salientando-se os senhores Firmino Gurgel, no papel de Dr. Nilo e João Gomes, no de Carlos Dervy. A interessante Iracema Gurgel desempenhou a contento de todos o difícil papel de Alba. Na comédia, o endiabrado Nutinho, com as lagartixas, ratos e gafanhotos a percorrerem seu intestino, fez arrancar do auditório boas e prolongadas gargalhadas”.

Ainda na mesma reportagem, o jornal noticiava outro espetáculo, apresentado no Teatro São Sebastião; “No dia 20, um grupo de gentis senhoritas, no mesmo teatro, levou à cena o drama “S. Aguilina”, sendo todos os papéis bem desempenhados. Merecem especial menção as gracis senhoritas Ezilda Lemos e Letice Fernandes nos papéis de S. Aguilina e Thecusa – menina pagé”. Estes incipientes grupos de teatro em Caraúbas tiveram mérito duplo, pois incentivavam os jovens à prática da arte e também o mérito da assistência social, pois o rendimento da bilheteria das peças não resultava somente em lucro próprio, se fazendo também espetáculos beneficentes em prol de obras de caridade.

-------------------------------------------------

2 comentários:

  1. Bravo! Já se ouvia das plateias, certamente. Eu, de cá de minha Roraima, vibrei ao saber dessa história que eu desconhecia. Nos anos 90, quando participava da Trupe Escarcel, junto ao Marquinhos, Lindomar, entre outros, colocávamos uma pedrinhas no alicerce de nossa juventude. Dias felizes aqueles. Pois digo a esta de hoje, que devo aos meus colegas, amigos(as), a maior parte do que sou hoje, e que a "estrada" só me levou a lugares seguros. Saudades de tudo. Saudades de todos(as). Aos que fazem os novos grupos do teatro amador caraubense, meu incentivo e força. Afetuosamente. Prof. M.Sc. Wanderley Gurgel - Antropólogo (Prof. UERR).

    ResponderExcluir
  2. Aos mais atentos resta lamentar, não que o teatro caraubense se tenha finado, mas mudado radicalmente de enredo e cenário. As pantomimas politiqueiras estão aí para quem as consiga distinguir, embora não lhes aplaudindo nem os protagonistas canastrões, nem os coadjuvantes bufos e, muito menos, a platéia parva.

    ResponderExcluir