terça-feira, 30 de março de 2010

Alguns jornaizinhos que fiz em Caraúbas

Anchieta Fernandes

3 – Juventude. Como eu já informei, fiz 3 números do jornal O Juvenil em 1955. Na época a cidade de Caraúbas era muito diferente de hoje. Não tinha bancas ( de vender revistas e jornais ), não tinha quase nenhum movimento artistico e literário. Daí me veio o desânimo: fazer jornal para que e para quem?

Mas, passados cinco anos, o vírus de fazer jornal tomou conta de mim de novo. Contudo me veio uma dificuldade: meu pai foi aposentado como escrivão em fevereiro de 1960, e, como era hábito na época, os escrivães que se aposentavam podiam vender os objetos do cartório, que não eram propriedade oficial, pois todos eram comprados pelos próprios titulares. E aí: cadê a velha máquina de escrever, para “imprimir” datilograficamente o meu jornal, se já estava vendida e entregue ao novo escrivão, José Soares Filho?

O “estalo” de Vieira me sugeriu: fazer o jornal manuscrito ( aliás, para quem não sabe, é bom dizer: muita gente boa da política e dos meios de comunicação, fez seus jornais manuscritos quando adolescentes, como, por exemplo, o ex-presidente Café Filho, responsável pelo surgimento de dois jornais manuscritos em Natal: em 1916, O Bonde; e em 1918, A Gazeta ).

Como eu ainda tinha no pensamento publicar jornais para os jovens, a partir de março de 1960, em Caraúbas, comecei a fazer o jornalzinho manuscrito Juventude. Escrevia as matérias em folha de papel comum, pautado.Ora usava caneta de tinta azul, ora caneta de tinta vermelha. O jornal tinha um artigo doutrinário na primeira página, crônicas, poesia, e a página de “Variedades”, subdividida em “Humanismo”, “Curiosidades”, “Pensamento” e “Trova”.

Com a publicação, por etapas, do poema de cordel “Os Sinais do Fim do Mundo”, que o autor ditou para mim no alpendre da velha fazenda Quixaba, de propriedade do meu tio Assis Fernandes, iniciei uma nova página: “Folclore”. O autor de “Os Sinais do Fim do Mundo (Luxo, Escândalo e Carestia)”, improvisando na hora para mim era o jovem trabalhador da fazenda, Pedro Francisco.

Meus irmãos Kerginaldo, João Charlier e Fernando colaboravam com o jornal, Kerginaldo escrevendo artigos sobre politica internacional ( na época ele era assinante da revista carioca “Visão”, que tinha muito deste teor, de comentários sobre política internacional ) e João Charlier e Fernando dando contribuição na parte de crônicas e poesia. Quando nossa família veio morar em Natal, em 21 de abril de 1960 ( data em que Brasília, a capital do país, estava sendo inaugurada ), eu continuei a fazer Juventude na capital do Estado, circulando o último número em junho de 1961. Depois em Natal, colaborei em jornais e participei da fundação de jornais, mas dos quais não interessaria falar nesta série de artigos , que aquí se encerra.

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Anchieta Fernandes é escritor e editor do jornal cultural natalense “O Rio Grande”.

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